sábado, 10 de novembro de 2012

Análise do poema "As Ilhas Afortunadas"


Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, maio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.


O Poema que refere, “As Ilhas Afortunadas”, encontra-se na terceira parte do livro de Fernando Pessoa. Encontra-se porém num “momento sebástico”. Sendo certo que a questão Sebastianista foi longamente debatida ao longo da história nacional, pessoa enquadra-se nela enquanto um poeta-profeta, que embora admita o regresso físico do rei perdido (chega a justificar tal regresso pela teoria da metempsicose, ou transmigração das almas), faz essa justificação através da única linguagem que a pode entender – a poesia.
Após desenhar na primeira parte da Mensagem a figura do rei, príncipe mártir, traído pela sua ambição, mas o quinto mártir, e por isso ungido de sagrado significado futuro, na segunda parte, as acções dos marinheiros aparecem como que por obra e graça da intervenção divina, no que António Quadros denomina como sendo uma visão providencial da história”, em que esta se dá a conhecer, quando ainda oculta, no milagre, na revelação e no mito.  É a terceira parte já totalmente destinada ao Encoberto, a El-Rei D. Sebastião feito já mito.
 No primeiro dos símbolos, o rei morre mas é divinizado pela sua morte heróica.
 No segundo símbolo Pessoa fala da sua visão do Quinto Império (remeto aqui para as análises feitas já no fórum sobre este assunto).
 O advento do Quinto Império, o Império do Espírito, encontra evidentes similitudes com a ressurreição de Jesus Cristo, porque se espera o regresso de alguém feito mito, depois do seu martírio e morte.
 No terceiro símbolo, D. Sebastião já é O Desejado, caminho para a nova religião, Galaaz, ou o revelador do Santo Graal escondido, que trará essa nova esperança a um povo perdido.

 O quarto símbolo, sobre o qual me questiona no seu pedido, falando das Ilhas Afortunadas, remete para o inconsciente, para fora do plano do mito, onde apenas “esperanças infundadas e vagas” residem: “São ilhas afortunadas, são terras sem ter lugar, Onde o Rei mora esperando, Mas, se vamos despertando, Cala a voz, e há só o mar”. Ou seja, a esperança nas “ilhas afortunadas”, onde um “rei mora esperando”, “se vamos despertando”, se acordarmos de as sonhar, “cala a voz, e há só o mar”, cala-se a esperança e resta o nada que é o sonho depois dele acordarmos. Finalmente, no quinto símbolo, a “Religião do Encoberto” ocupa o lugar da religião cristã, sendo as referências à rosa, referências herméticas à sociedade secreta dos rosa-crucianos.

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