segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Biografia


José de Sousa Saramago (Azinhaga, 16 de Novembro de 1922 - Lanzarote, 18 de Junho de 2010) foi um escritor português galardoado em 1998 com o Nobel da Literatura. Também ganhou o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Nasceu na província do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento.
Saramago, conhecido pelo seu ateísmo, era membro do Partido Comunista Português e foi director do Diário de Notícias. Casado com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu em Lanzarote, nas Ilhas Canárias, até à data da sua morte, 18 de Junho de 2010.

Bibliografia


Caim, 2009
A Viagem do Elefante, 2008
As Pequenas Memórias, 2006
As Intermitências da Morte, 2005
Ensaio Sobre a Lucidez, 2004
O Homem Duplicado, 2002
A Maior Flor do Mundo, 2001
A Caverna, 2000
O Conto da Ilha Desconhecida, 1997
Todos os Nomes, 1997
Ensaio Sobre a Cegueira, 1995
Cadernos de Lanzarote (I-V), 1994
O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991
História do Cerco de Lisboa, 1989
A Jangada de Pedra, 1986
O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984
Memorial do Convento, 1982
Viagem a Portugal, 1981
Levantado do Chão, 1980
Poética dos Cinco Sentidos - O Ouvido, 1979
Objecto Quase, 1978
Os Apontamentos, 1977
Manual de Pintura e Caligrafia, 1977
O Ano de 1993, 1975
As Opiniões que o DL Teve, 1974
A Bagagem do Viajante, 1973
Deste Mundo e do Outro, 1971

Simbologia

Começando pelo nome das personagens principais, há a referir que em ambas (Baltasar Sete-Sóis e Blimunda Sete-Luas) é-nos transmitida uma ideia de união, de complementaridade e de perfeição, traduzidas pela simbologia no número 7. Ambos os nomes representam, também, perfeição, totalidade e até magia, sugeridas pela extensão trissílaba (e aqui reside a simbologia do número 3, revelador de uma ordem intelectual e espiritual traduzida na união do céu e da terra).
Vários mutilados surgem na construção do convento, onde se inclui obviamente Baltasar. Tal situação poderá levar à interpretação simbólica de luta desmedida na construção de algo, como realização de um sonho. Baltasar, após ter perdido a mão esquerda num episódio bélico, empreende outras lutas: na construção da passarola e na colaboração na edificação do convento de Mafra. Simbolicamente, a perda de parte do seu lado esquerdo significou a amputação da sua dimensão mais nefasta, mais masculina, mais passada; ganhou, assim, uma dimensão mais espiritual, marcada pela perseverança, força, luta e sentido de futuro que sairá reforçada na associação com Blimunda.
A riqueza interior de Blimunda apresenta-se, simbolicamente, pela força do seu olhar, possuidor de um poder mágico.
Metaforicamente, surgem as duas mil “vontades” (símbolo de todos aqueles que contribuem para o progresso do mundo) necessárias para realizar o sonho do padre Bartolomeu. São vontades (nuvens) estão carregadas de um carácter eufórico (positivo); contudo, de difícil acesso. Só uma personagem como Blimunda conseguiria interpenetrar neste mundo não material.
Ainda no que concerne à simbologia dos números, o 7 não aparece só associado aos nomes de Baltasar e Blimunda, como também à data e à hora da sagração do convento, aos sete anos vividos em Portugal pelo músico Scarlatti, às sete vezes que Blimunda passa por Lisboa à procura de Baltasar, às sete igrejas visitadas na Páscoa, aos sete bispos que baptizaram D. Maria Bárbara comparados a sete sóis de ouro e prata nos degraus do altar mor.  
O número nove surge também a simbolizar insistência e determinação quando Blimunda procura o homem amado durante 9 anos. Este número encerra também simbolicamente a ideia de procura pois, o que realmente acontece a Blimunda após os 9 anos de busca é que reencontra finalmente Baltasar, não como um encontro físico, mas místico e completo.

Inquisição em Portugal


A instalação do Tribunal do Santo ofício em Portugal não ocorreu de uma forma tranquila e, para compreender as dificuldades para o seu estabelecimento e a luta de D. João para que fosse realizada estaremos recorrendo ao historiador Alexandre Herculano que narra as disputas entre o monarca e Roma.

Dom João III desejava Inquisidores e agir sobre ela conforme os interesses da coroa.Foi lhe concedida em 1531, porém com a Inquisição já veio nomeado um Inquisidor para o seu reino, pelo Papa Clemente VII, que revogou a ordem em seguida após descobrir a confissão forçada dos judeus. Após o falecimento de lemente VII, em 1.534. Quando Paulo III assumiu, restabeleceu a Inquisição em Portugal, 23/05/1536, Inquisidores e autorizando o rei a nomear outro Portugal, além de outras disposições que o rei, por não estar de acordo com seus interesses burlava.Nomeou Inquisidor seu próprio irmão, Infante D. Henrique. Por Bula em 1539 o Papa assegurava algumas garantias aos acusados, no entanto as orientações da Santa Sé não foram respeitadas no país, o que levou o Pontifície a suspendê-la novamente em 1544. Diante de tal situação e da ameaça do monarca de cisma, o Papa assentiu às exigência do rei,nomeando lnquisidor-Geral o Cardeal Infante D. Henrique e concedendo ao rei poderes para interferir. Em contraponto, o povo judeu que era contribuinte em Roma tinha representantes de seus interesses que intercediam e procuravam atravancar os planos de D. João.

Os Regimentos que regiam o Santo Ofício em Portugal são datados de 1552, 1613, 1640, 1774.

Entre os diversos factores que contribuíram para a implantação e perpetuação do Tribunal do Santo Ofício, e os motivos para que os judeus fossem as maiores vítimas, podemos destacar causas económicas, sociais e religiosas:

Tempo


Tempo histórico (época ou período da História em que se desenrolam as sequências narrativas):
A acção passa-se no início do século XVIII (1711 – 1739).

Tempo da diegese (tempo durante o qual a acção se desenrola, segundo uma ordenação cronológica e em que
surgem marcas objectivas da passagem das horas, dias, meses, anos…):
1711 – 1739. Ao longo do romance, as referências temporais são escassas e, muitas vezes, deduzidas. O
crescimento e/ou envelhecimento das personagens também nos dá conta da passagem do tempo.
- Chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje (I) – deduz-se que a acção
tem início em 1711, pois o casamento real aconteceu dois anos antes, em 1709.
- Apenas há seis anos aconteceu, em 1705(II) – confirma 1711 focado anteriormente;

Tempo do discurso (modo como o narrador conta os acontecimentos, podendo elaborar o seu discurso segundo
uma frequência, ordem e ritmo temporais diferentes):
Frequência temporal:
à Discurso singulativo – o narrador conta apenas uma vez o que aconteceu uma só vez.
à Discurso repetitivo – o narrador conta várias vezes o que aconteceu apenas uma vez.

à Discurso iterativo – o narrador conta uma vez o que aconteceu várias vezes
Ordem temporal:
à O narrador conta no presente acontecimentos já passados – analepseà anisocronia temporal
à O narrador antecipa acontecimentos futuros – prolepse à anisocronia temporal
à O narrador segue uma ordem cronológica dos eventos – ordem linear à isocronia temporal.
Ritmo temporal:
à O tempo da diegese pode ser maior do que o do discurso – anisocronia temporal (o narrador omite (elipse) ou
sumaria o que aconteceu em determinado período temporal)
à O tempo da diegese pode ser menor do que o do discurso – anisocronia temporal (o narrador procede a
descrições, divagações, reflexões, pausas narrativas)
àO tempo da diegese pode ser idêntico ao do discurso – isocronia temporal (exemplo: diálogos).

No “Memorial do Convento” o narrador manipula o tempo a seu belo prazer mas segue uma ordem cronológica
linear havendo, por vezes, algumas anisocronias, sobretudo prolepses (antecipação de acontecimentos futuros)
que reflectem o seu afastamento temporal da intriga:
- O número de filhos bastardos de D. João V (IX)
- A morte do sobrinho de Baltasar (X)
- A morte do infante D. Pedro (X)
- A morte da mãe de Baltasar (XII)
- A morte de Manuela Xavier e de Álvaro Diogo (XVII e XXIII, respectivamente)
Da mesma forma, adoptando uma atitude distanciada e, não raro, irónica, o narrado tece comentários e
comparações entre épocas históricas diferentes, que marcam a distância entre o tempo da diegese e o do discurso
(prolepses).
- Alusão à extinção dos autos-de-fé (V)
- A referência às cores da bandeira portuguesa e à implantação da República (XII)
- A menção à cor carmesim (XII)
- A alusão à revolução do 25 de Abril (XIII)
- A indicação do número de frades instalados no convento por altura das invasões francesas (XVII)
- A referência ao cinema e aos aviões (XVII)
- A alusão a Fernando Pessoa (XVIII)

O distanciamento do narrador relativamente ao tempo da história é, ainda, visível quando este interpela directamente
o narratário, esclarece termos que caíram em desuso e quando simula a voz de um cicerone (guia os visitantes do
convento de Mafra (XIX)), detectando-se aqui a oposição entre dois tempos diferentes, com o intuito de corrigir a
História através da lembrança daqueles homens verdadeiros e dos quais não há registo histórico oficial.
É de salientar que o narrador tem consciência do desfasamento entre o tempo da história e o da escrita. Com isso
pretende lembrar e enaltecer os homens/heróis que a História quase sempre esquece, através da oposição entre
épocas distintas Vão aqui seiscentos homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam,
com perdão da anacrónica voz (XIX).
Há momentos em que o narrador recua no tempo diegético para contar acontecimentos situados num passado, mais
ou menos distante, que explicam determinados aspectos da acção no presente (analepses):
- Desejo antigo dos franciscanos terem um convento em Mafra (II)
- A língua portuguesa ser familiar a Scarlatti há já alguns anos (XIV)
- O que aconteceu ao cravo de Scarlatti que se encontrava na quinta do duque de Aveiro (XVI)

No último capítulo há um salto de 9 anos no tempo da diegese em que o narrador sumaria em poucas páginas o que
aconteceu durante este período de tempo. Nesta elipse temporal, o narrador cinge-se praticamente à peregrinação
incessante de Blimunda e ao (re)encontro de Baltasar, 1739, desde o seu desaparecimento em 1730, omitindo o que
de supérfluo para a acção se passou durante estes anos.

Tempo psicológico (tempo subjectivo, relacionado com as emoções, a problemática existencial das personagens, ou
seja, a forma como estas sentem a passagem do tempo, vivendo momentos felizes e/ou infelizes):
No percurso até Espanha, Maria Bárbara vai observando o que a rodeia e, a partir daí, medita sobre vários assuntos,
nomeadamente sobre o facto de nunca ter visto o convento erigido em honra do seu nascimento (XXII).

Espaço

Espaço físico (espaço real, onde os acontecimentos ocorrem, confere verosimilhança à história narrada):
à Espaço geográfico – Lisboa e Mafra são os espaços fulcrais, até porque é aqui que se movimentam as
personagens principais. Dentro destes espaços, destacam-se, nomeadamente, o Terreiro do Paço (local que retrata a vida na corte), o Rossio (onde se realiza, por exemplo, os autos-de-fé), S. Sebastião da Pedreira (localidade situada nos arredores de Lisboa, onde decorre a construção da “passarola”, na quinta do duque de Aveiro), a “ilha da Madeira” (vale onde os trabalhadores do convento se alojam). Faz-se ainda referência a Évora, Montemor, Pegões, Aldegalega (locais por onde Baltasar passa, depois da guerra, no seu percurso até chegar a Lisboa); à serra do Barregudo, ao Monte Junto, ao Monte Achique, a Pinheiro de Loures, a Pêro Pinheiro (onde os homens vão buscar a gigantesca pedra para o convento), a Cheleiros, Torres Vedras, Leiria, à região do Algarve, Alentejo e Entre-Douro-e-Minho, etc.  

- Espaço interior – Palácio Real (Lisboa), a albegoaria da quinta do duque de Aveiro (arredores de Lisboa), a casa dos pais de Baltasar (Mafra) …

- Espaço exterior – ruas/praças, o Terreiro do Paço, o Rossio, Remolares, S. Roque, o morro das Taipas, Valverde, o vale da “ilha da Madeira”…

Espaço social (ambiente social vivido pelas personagens):
MAFRA e LISBOA
- A vida na corte, com a apresentação do séquito real, do vestuário das personagens, das vénias protocolares,do ritual das relações entre o rei e a rainha e todos aqueles que frequentam o paço, sobretudo o clero (Cap.I)
- Diversas procissões, nomeadamente, a de penitência pela altura da Quaresma (Cap. III), a dos autos-
de-fé (Cap. V e XXV); a do Corpo de Deus em Junho (Cap. XIII); que atestam a influência da religião na
sociedade;
- O baptizado da princesa Maria Bárbara no dia da Nossa Senhora do Ó (VII)
- A tourada em Lisboa, no Terreiro do Paço (IX);
- Os festejos da inauguração e da bênção da primeira pedra do convento de Mafra (XII);
- As lições de música da infanta Maria Bárbara ministradas por Domenico Scarlatti (XVI)
- A epidemia de cólera e febre-amarela que dizima o povo (XV)
- O cortejo nupcial que retrata os casamentos da infanta Maria Bárbara e do príncipe D. José com o príncipe e infanta espanhóis (XXII);
- Sagração, em 1730, do convento de Mafra, apesar de ainda não concluídas as obras (XXIV) …
O narrador tem preferência por locais onde se movem grandes aglomerados populares, na medida em que estes permitem evidenciar as disparidades sociais, a exploração e a crueldade a que o povo estava sujeito.
Pelo contrário, os ambientes das classes privilegiadas surgem em menor número e, não raro, são apresentados num tom irónico como forma de criticar aspectos políticos, económicos e religiosos de uma sociedade, onde uma minoria tem tudo e a maioria nada tem.

Espaço psicológico (vivências íntimas, pensamentos, sonhos, estados de espírito, memórias, reflexões… das
personagens e que caracterizam o ambiente a elas associado):
- O sonho – a rainha sonha diversas vezes com o cunhado, D. Francisco. Ao longo do romance, são descritos com alguma insistência os sonhos de diversas personagens, dando conta dos seus mais íntimos desejos, ansiedades e inquietações…
- A imaginação – por exemplo, a peregrinação em busca de Baltasar, durante nove anos, Quantas vezes
imaginou Blimunda que estando sentada na praça de uma vila, a pedir esmola, um homem se aproximaria… (Cap. XXV).
- A memória – Quando Baltasar, por exemplo, relembra o momento em que perdeu a sua mão esquerda na
guerra (VIII)
  A reflexão – nomeadamente, a conversa entre a infanta D. Maria Bárbara e sua mãe durante o cortejo
nupcial (XXII)

Narrador

Narrador - Personagem fictícia criada pelo autor para contar a história (diegese)
Classificação do narrador:
Quanto à presença:
-Heterodiegético(narrador não participante; narrativa de 3º pessoa)
-Homodiegético(narrador participante; personagem secundária; narrativa de 1º pessoa)
-Autodiegético(personagem principal; narrativa de primeira pessoa)

Quanto à visão:
-Narrador omnisciente(sabe tudo sobre a diagese)
-Visão interna(sabe tanto como as personagens)
-Visão externa(só narra o que é materialmente observável) 

Personagens

- D. João V – rei de Portugal. De carácter vaidoso, magnificente e megalómano pretende deixar uma obra que ateste a grandeza da sua riqueza e do seu poder, ainda que para tal se tenha de sacrificar o povo. É um “marido leviano”, cuja relação com a rainha se pauta, essencialmente, pelo cumprimento de deveres reais e conjugais. A caracterização do rei é feita predominantemente através da descrição das suas acções e dos seus pensamentos – de modo indirecto.

- D. Maria Ana Josefa – oriunda da Áustria, a rainha revela-se extremamente devota e submissa, cujo papel se resume basicamente a dar herdeiros ao rei…

- A infanta D. Maria Bárbara – filha primogénita do casal real. Tem cara de lua cheia, é bexigosa e feia, mas boa rapariga, musical a quanto pode chegar uma princesa (XXII). Casa aos 17 anos com o infante D. Fernando de Espanha, pelo que não chega sequer a ver o convento erigido em honra do seu nascimento…
- O infante D. Francisco – irmão de D. João V. é um homem sem escrúpulos que cobiça o trono e a esposa do rei, bem como se entretém a provar a sua boa pontaria de espingarda nos marinheiros que estão nos barcos ancorados no Tejo…

- Domenico Scarlatti – músico italiano. É um homem de completa figura, rosto comprido, boca larga e firme, olhos afastados (XVI). Foi contratado para dar lições de música à infanta D. Maria Bárbara. Também ele partilha o segredo da construção da “passarola”, deslocando-se várias vezes à quinta do duqe de Aveiro onde toca cravo para gáudio dos presentes…

- João Frederico Ludovice – arquitecto alemão, contratado para construir o convento de Mafra que sabe que uma vida, para ser bem sucedida, haverá de ser conciliadora, sobretudo por quem a viva entre os degraus do altar e os degraus do trono (XXI) …

- O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão – Figura que tem fundamento histórico. Imbuído de um espírito aberto e despreconceituoso, movimenta-se na corte e na academia de Coimbra. Acalenta o sonho de um dia voar, daí o seu projecto da “passarola”, apoiado por el-rei D. João V de quem é amigo. Mantém, do mesmo modo, laços de profunda amizade com Baltasar e Blimunda, que o ajudam na construção da “máquina voadora”, e com quem, segundo as suas palavras, forma uma trindade terrestre, o pai, o filho e o espírito Santo (XVI). Transtornado com a perseguição da Inquisição, refugia-se em Toledo, onde acaba por falecer… caracterização indirecta.

- Baltasar Mateus – de alcunha, o sete-sóis, esteve na guerra de sucessão de Espanha, durante quatro anos, da qual foi dispensado por ter perdido a mão esquerda em combate. De regresso, começa por trabalhar no açougue no Terreiro do Paço, em Lisboa. Num auto-de-fé conhece Blimunda, a quem se liga amorosa e espiritualmente. A convite do padre Bartolomeu Lourenço, ajuda a construir a “passarola”, sonho que passa também a ser seu. Mais tarde, trabalha nas obras do convento de Mafra, primeiro como servente e, depois, como boeiro. Após a morte do padre, zela pela preservação da “máquina voadora” e, um dia, por descuido, é levado ao acaso, acabando por ser queimado 9 anos depois num auto-de-fé pela Inquisição. Trata-se de um homem do povo, analfabeto e humilde, que aceita a vida tal como esta se lhe apresenta. Ao longo da acção, vai-se dando conta do seu envelhecimento (XIII)

- Blimunda de Jesus – uma mulher do povo, a quem o padre Bartolomeu Lourenço, baptiza de “sete-Luas”. Vive um amor apaixonado, franco e leal com Baltasar. Tem o dom de, em jejum, ver o interior das pessoas e das coisas, o que lhe permite recolher as duas mil “vontades” indispensável para a “passarola” voar. Os seus olhos são evidenciados, por diversas vezes, (V). Detentora de grande densidade psicológica e de uma perseverança sem limites, procura “o seu homem” durante nove anos, unindo-se ao mesmo numa comunhão espiritual ao resgatar a sua “vontade” quando finalmente o reencontra num auto-de-fé em que este está a ser queimado no fogo da Inquisição… O nome de Blimunda, estranho e raro tal como a personagem que o veste, teria surgido ao narrador, talvez pela musicalidade que ele encerra ou pela magia das suas três sílabas, símbolo da perfeição. Esta figura representa a força que permite ao povo a sua sobrevivência, assim como contestar o poder e resistir.

- Sebastiana Maria de Jesus – mãe de Blimunda, um quarto de cristã-nova condenada a ser açoitada em público e ao degredo por ter “visões e revelações” (V). Ao avistar a filha no meio da multidão que assiste à procissão dos sentenciados pelo Santo ofício, de quem também faz parte, interroga-se sobre a identidade do homem “tão alto, que está perto de Blimunda” …

- Marta Maria – mãe de Baltasar, é quem recebe o “filho pródigo” e Blimunda em sua casa, quando estes vão pela primeira vez juntos a Mafra.

- João Francisco ­ – pai de Baltasar (X). homem do povo cuja subsistência reside na agricultura…

- Inês Antónia – irmã de Baltasar, mãe de dois filhos, que sofre a morte do rapaz mais novo, com pouco mais de dois anos…

- Álvaro Diogo – homem do povo e antigo soldado (IV) com quem Baltasar trava amizade ao chegar a Lisboa…

- Os trabalhadores do convento – personagem colectiva, cuja “força bruta” e esforço desmedido são explorados de forma desumana. De entre estes, distinguem-se, nomeadamente: Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau-Tempo…

- O povo em geral – massa anónima tantas vezes subestimada e esquecida pela História – é apresentado como o verdadeiro herói, na medida em que foi à custa do seu sacrifício, e muitas vezes da própria morte, que se tornou possível a edificação do megalómano convento.

Saramago (tal como Luís de Sttau Monteiro fez em Felizmente há Luar!, se bem que em situações politicas diferentes) sentiu a necessidade de repensar os acontecimentos e as figuras à luz de uma nova realidade criada no presente e que tem implicações na construção de valores sociais futuros.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Ação


A análise de Memorial do Convento permite constatar a existência de duas narrativas simultâneas: uma de carácter histórico e outra ficcionada.
A acção principal é a edificação do convento de Mafra – desejo e promessa de D. João V e a acção secundária é a história de amor entre Blimunda Sete-Luas e Baltasar Sete-Sóis; a construção da passarola (sonho de Bartolomeu de Gusmão).

Linguagem e Estilo de José Saramago

Em Memorial do convento, encontramos uma linguagem e um estilo peculiares, um afastamento as normas tradicionais de pontuação. O narrador conta a historia reproduzindo as falas das personagens, num discurso procimo da oralidade.
Repare que nao se verifica a mudança de linha no discurso directo, nao há o recurso a sinais graficos como os dois pontos e o travessao, aspas ou italico. A construçao da pausa efectua-se através do uso da virgula e da letra maiscula.


Alguns aspectos característicos da linguagem em Memoria do Convento:

Adjectivação dupla e superlativizada
adjectivação ironica
aforismos
aliteração
arcaismos
comparaçao
construçoes anaforicas
diminutivos
enumeraçao
expressoes populares/proverbios
gradaçao
hiperbole
inversao de expressoes biblicas
ironia
jogos de palavras
latinismos
metafora
onomatopeia
polissindeto
quiasmo
repetiçoes sinestesia

Um estilo hibrido:
A convergencia do Patrimonio Cultural
Registo de lingua
Interacção com a literatura portuguesa
introduçao do fantastico
A musica como metafora da arte literaria