- D. Maria Ana Josefa – oriunda da Áustria, a rainha
revela-se extremamente devota e submissa, cujo papel se resume basicamente a
dar herdeiros ao rei…
- A infanta D. Maria Bárbara – filha primogénita do casal
real. Tem cara de lua cheia, é bexigosa e feia, mas boa rapariga, musical a
quanto pode chegar uma princesa (XXII). Casa aos 17 anos com o infante D.
Fernando de Espanha, pelo que não chega sequer a ver o convento erigido em
honra do seu nascimento…
- O infante D. Francisco – irmão de D. João V. é um homem
sem escrúpulos que cobiça o trono e a esposa do rei, bem como se entretém a
provar a sua boa pontaria de espingarda nos marinheiros que estão nos barcos
ancorados no Tejo…
- Domenico Scarlatti – músico italiano. É um homem de
completa figura, rosto comprido, boca larga e firme, olhos afastados (XVI). Foi
contratado para dar lições de música à infanta D. Maria Bárbara. Também ele
partilha o segredo da construção da “passarola”, deslocando-se várias vezes à
quinta do duqe de Aveiro onde toca cravo para gáudio dos presentes…
- João Frederico Ludovice – arquitecto alemão, contratado
para construir o convento de Mafra que sabe que uma vida, para ser bem
sucedida, haverá de ser conciliadora, sobretudo por quem a viva entre os
degraus do altar e os degraus do trono (XXI) …
- O padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão – Figura que tem
fundamento histórico. Imbuído de um espírito aberto e despreconceituoso,
movimenta-se na corte e na academia de Coimbra. Acalenta o sonho de um dia voar,
daí o seu projecto da “passarola”, apoiado por el-rei D. João V de quem é
amigo. Mantém, do mesmo modo, laços de profunda amizade com Baltasar e Blimunda,
que o ajudam na construção da “máquina voadora”, e com quem, segundo as suas
palavras, forma uma trindade terrestre, o pai, o filho e o espírito Santo (XVI).
Transtornado com a perseguição da Inquisição, refugia-se em Toledo, onde acaba
por falecer… caracterização indirecta.
- Baltasar Mateus – de alcunha, o sete-sóis, esteve na
guerra de sucessão de Espanha, durante quatro anos, da qual foi dispensado por
ter perdido a mão esquerda em combate. De regresso, começa por trabalhar no açougue
no Terreiro do Paço, em Lisboa. Num auto-de-fé conhece Blimunda, a quem se liga
amorosa e espiritualmente. A convite do padre Bartolomeu Lourenço, ajuda a
construir a “passarola”, sonho que passa também a ser seu. Mais tarde, trabalha
nas obras do convento de Mafra, primeiro como servente e, depois, como boeiro.
Após a morte do padre, zela pela preservação da “máquina voadora” e, um dia,
por descuido, é levado ao acaso, acabando por ser queimado 9 anos depois num
auto-de-fé pela Inquisição. Trata-se de um homem do povo, analfabeto e humilde,
que aceita a vida tal como esta se lhe apresenta. Ao longo da acção, vai-se
dando conta do seu envelhecimento (XIII)
- Blimunda de Jesus – uma mulher do povo, a quem o padre
Bartolomeu Lourenço, baptiza de “sete-Luas”. Vive um amor apaixonado, franco e
leal com Baltasar. Tem o dom de, em jejum, ver o interior das pessoas e das
coisas, o que lhe permite recolher as duas mil “vontades” indispensável para a
“passarola” voar. Os seus olhos são evidenciados, por diversas vezes, (V).
Detentora de grande densidade psicológica e de uma perseverança sem limites,
procura “o seu homem” durante nove anos, unindo-se ao mesmo numa comunhão espiritual
ao resgatar a sua “vontade” quando finalmente o reencontra num auto-de-fé em que
este está a ser queimado no fogo da Inquisição… O nome de Blimunda, estranho e
raro tal como a personagem que o veste, teria surgido ao narrador, talvez pela
musicalidade que ele encerra ou pela magia das suas três sílabas, símbolo da
perfeição. Esta figura representa a força que permite ao povo a sua
sobrevivência, assim como contestar o poder e resistir.
- Sebastiana Maria de Jesus – mãe de Blimunda, um quarto de
cristã-nova condenada a ser açoitada em público e ao degredo por ter “visões e
revelações” (V). Ao avistar a filha no meio da multidão que assiste à procissão
dos sentenciados pelo Santo ofício, de quem também faz parte, interroga-se
sobre a identidade do homem “tão alto, que está perto de Blimunda” …
- Marta Maria – mãe de Baltasar, é quem recebe o “filho
pródigo” e Blimunda em sua casa, quando estes vão pela primeira vez juntos a
Mafra.
- João Francisco – pai de Baltasar (X). homem do povo cuja
subsistência reside na agricultura…
- Inês Antónia – irmã de Baltasar, mãe de dois filhos, que
sofre a morte do rapaz mais novo, com pouco mais de dois anos…
- Álvaro Diogo – homem do povo e antigo soldado (IV) com
quem Baltasar trava amizade ao chegar a Lisboa…
- Os trabalhadores do convento – personagem colectiva, cuja
“força bruta” e esforço desmedido são explorados de forma desumana. De entre
estes, distinguem-se, nomeadamente: Francisco Marques, José Pequeno, Joaquim da
Rocha, Manuel Milho, João Anes, Julião Mau-Tempo…
- O povo em geral – massa anónima tantas vezes subestimada e
esquecida pela História – é apresentado como o verdadeiro herói, na medida em
que foi à custa do seu sacrifício, e muitas vezes da própria morte, que se
tornou possível a edificação do megalómano convento.
Saramago (tal como Luís de Sttau Monteiro fez em Felizmente
há Luar!, se bem que em situações politicas diferentes) sentiu a necessidade de
repensar os acontecimentos e as figuras à luz de uma nova realidade criada no
presente e que tem implicações na construção de valores sociais futuros.
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