Vários mutilados surgem na construção do convento, onde se
inclui obviamente Baltasar. Tal situação poderá levar à interpretação simbólica de luta desmedida na construção de
algo, como realização de um sonho. Baltasar, após ter perdido a mão esquerda num episódio bélico, empreende outras
lutas: na construção da passarola e na colaboração na edificação do convento de Mafra. Simbolicamente, a perda
de parte do seu lado esquerdo significou a amputação da sua dimensão mais nefasta, mais masculina, mais passada;
ganhou, assim, uma dimensão mais espiritual, marcada pela perseverança, força, luta e sentido de futuro
que sairá reforçada na associação com Blimunda.
A riqueza interior de Blimunda apresenta-se, simbolicamente,
pela força do seu olhar, possuidor de um poder mágico.
Metaforicamente, surgem as duas mil “vontades” (símbolo de
todos aqueles que contribuem para o progresso do mundo) necessárias para realizar o sonho do padre
Bartolomeu. São vontades (nuvens) estão carregadas de um carácter eufórico (positivo); contudo, de difícil acesso. Só
uma personagem como Blimunda conseguiria interpenetrar neste mundo não material.
Ainda no que concerne à simbologia dos números, o 7 não
aparece só associado aos nomes de Baltasar e Blimunda, como também à data e à hora da sagração do convento, aos
sete anos vividos em Portugal pelo músico Scarlatti, às sete vezes que Blimunda passa por Lisboa à procura de
Baltasar, às sete igrejas visitadas na Páscoa, aos sete bispos que baptizaram D. Maria Bárbara comparados a sete
sóis de ouro e prata nos degraus do altar mor.
O número nove surge também a simbolizar insistência e
determinação quando Blimunda procura o homem amado durante 9 anos. Este número encerra também simbolicamente a
ideia de procura pois, o que realmente acontece a Blimunda após os 9 anos de busca é que reencontra finalmente
Baltasar, não como um encontro físico, mas místico e completo.
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