Na obra de Luís de Sttau Monteiro
, Felizmente há um luar!, podemos
constatar um paralelo entre o tempo da história e o tempo da escrita.
A ação decorre em 1817, momento
marcado por uma grande agitação social,
que levou à revolta liberal de 1820 – conspirações internas, a revolta contra a
presença da Corte no Brasil e influência do exército britânico. De facto,
havia vários fatores que permitiam a crítica ao tempo da escrita, nomeadamente,
o regime absolutista e tirânico, as classes sociais fortemente hierarquizadas,
as classes dominantes com medo de perder privilégios, o povo oprimido e
resignado, a “miséria, o medo e a ignorância”, o obscurantismo.
O Manuel, “o mais consciente dos populares”, denuncia a opressão e a
miséria, as perseguições dos agentes de Bereford, as denúncias de Vicente,
Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipócritas, e sem escrúpulos denunciam
a censura à imprensa, severa repressão dos conspiradores, os processos sumários
e pena de morte, a execução do General Gomes Freire.
Paralelamente, no tempo da escrita, sobretudo, a década de 1950 a 1960,
havia uma enorme agitação social: conspirações internam; guerra colonial, o regime
ditatorial de Salazar desigualdade entre abastados e pobres, as classes
exploradas, o povo reprimido e explorado, a miséria, medo e analfabetismo, o obscurantismo,
mas crença nas mudanças a luta contra o regime totalitário e ditatorial absolutista, as perseguições da PIDE, as denúncias
dos chamados “bufos”, que surgem
na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar, a censura, a prisão
e duras medidas de repressão e de tortura, bem como a condenação em processos
sem provas.
Podemos concluir que Sttau Monteiro utilizou habilmente a técnica da
distanciação do teatro épico, levando o leitor/espetador a refletir sobre os
problemas do seu tempo a partir de factos passados.