terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Paralelismo entre o tempo da história e o tempo da escrita.


Na obra de Luís de Sttau Monteiro , Felizmente há um luar!, podemos constatar um paralelo entre o tempo da história e o tempo da escrita.

A ação decorre em 1817, momento marcado por uma grande agitação social, que levou à revolta liberal de 1820 – conspirações internas, a revolta contra a presença da Corte no  Brasil e influência do exército britânico. De facto, havia vários fatores que permitiam a crítica ao tempo da escrita, nomeadamente, o regime absolutista e tirânico, as classes sociais fortemente hierarquizadas, as classes dominantes com medo de perder privilégios, o povo oprimido e resignado, a “miséria, o medo e a ignorância”, o obscurantismo.
O Manuel, “o mais consciente dos populares”, denuncia a opressão e a miséria, as perseguições dos agentes de Bereford, as denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipócritas, e sem escrúpulos denunciam  a censura à imprensa, severa repressão dos conspiradores, os processos sumários e pena de morte, a execução do General Gomes Freire.

Paralelamente, no tempo da escrita, sobretudo, a década de 1950 a 1960, havia uma enorme agitação social: conspirações internam; guerra colonial, o regime ditatorial de Salazar desigualdade entre abastados e pobres, as classes exploradas, o povo reprimido e explorado, a miséria, medo e analfabetismo, o obscurantismo, mas crença nas mudanças a luta contra o regime totalitário e ditatorial absolutista, as perseguições da PIDE, as denúncias dos chamados “bufos”, que surgem na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar, a censura, a prisão e duras medidas de repressão e de tortura, bem como a condenação em processos sem provas.
Podemos concluir que Sttau Monteiro utilizou habilmente a técnica da distanciação do teatro épico, levando o leitor/espetador a refletir sobre os problemas do seu tempo a partir de factos passados.

Tempo da açao/historia (a corte no Brasil)


Em Portugal, a vitória do Liberalismo foi precedida de vários episódios de revolta, nomeadamente a conspiração de 1817, que vitimou vários portugueses inconformados com a política vigente. D. João VI, instalado na corte no Brasil, deixara a metrópole à mercê do governo constituído por uma junta de governadores, onde estava inserido Beresford, representante do poder militar britânico. O país vivia uma situação de declínio económico, social e comercial, e para piorar sentiam-se abandonados pelo seu rei. 

Terminada a guerra, os Ingleses mantinham o país em estado de mobilização e conservavam na fileiras perto de cem mil homens. Segundo um relatório que a junta de Governo enviou a D. João VI, em 1820, o exército absorvia 75% das receitas públicas. 
As relações entre o poder civil e o poder militar eram más, e dentro do exército eram também más as relações entre os oficiais portugueses e oficiais ingleses, porque os primeiros  se queixavam de ser preteridos nas promoções pelos segundos. Em 1817, o comandante inglês Beresford, foi informado da existência de uma conspiração entre oficiais portugueses. Com tudo isto, General Gomes Freire de Andrade e todos os implicados, foram enforcados, no entanto  o próprio Governo tinha indícios de estar implicado nas conspirações.  

William Beresford & D. Miguel Forjaz


William Beresford

. Representa o poder calculista e o interesse material, que fazem dele um mercenário astuto e arrogante (58, 59);
. De carácter trocista e mordaz, não esconde o seu desprezo pelo país onde é obrigado a viver, não desperdiçando qualquer oportunidade para ridicularizar a sua pequenez e provincianismo (55-57) e até para provocar Principal Sousa de forma irónica, porque representante de um catolicismo caduco (41, 54);
. Reconhecendo ser alvo do desprezo do povo, procura a todo o custo salvaguardar o seu posto de militar, participando ativamente no processo de condenação do homem que poria em risco a sua carreira, o seu prestígio e os seus privilégios (63-64). Embora sorria da corrupção generalizada que domina o país, serve-se da denúncia para manter o seu estatuto (44, 68-69);
. O seu cinismo e a sua arrogante crueldade revelam-se na humilhação a que sujeita Matilde, quando esta lhe pede a vida do marido (93-94, 99).


D. Miguel Forjaz

. É o protótipo do pequeno tirano, inseguro e arrogante, simbolizando a decadência do país que governa, minado pela hipocrisia e pela mesquinhez. O seu espírito decrépito e caduco impede o progresso, já que acredita fanaticamente na manutenção de um governo absolutista e numa sociedade perfeitamente estratificada;
. De carácter megalómano e prepotente, revela o seu calculismo político, a sua ambição desmedida e um egoísmo arrogante, no exercício do Poder (60-61, 65-66);
. Desprovido de integridade moral e corrupto, personifica a injustiça, a traição, aliada à vingança (43), pois vê na popular figura do primo uma ameaça ao seu prestígio e poder, condenando-o sem escrúpulos (70-71);
. Frio, desumano, é a «personificação da mediocridade consciente e rancorosa» (71-72, 116-117). A sua crueldade revela-se perante a execução de Gomes Freire, que será exemplo para os que ousem desafiá-lo (131).

Gomes Freire de Andrade


Gomes Freire de Andrade

General português nascido em 1757, em Viena, e falecido em 1817. Seguiu a vida militar depois de ter vindo para Portugal aos 24 anos.
Combateu em Argel  (1784), na Rússia  (1788), na Guerra do Rossilhão (1790), na Guerra das Laranjas  (1801)  e na Guerra Peninsular, só deixando a  carreira das armas após a derrota de Napoleão em 1814. Ligado aos ideais progressistas e membro da Maçonaria, foi acusado de participar na conspiração de 1817, o que lhe valeu a prisão e a forca nesse mesmo ano. Surge como personagem na peça de Luís de Sttau Monteiro Felizmente há Luar (1961).


O general, embora nunca apareça é evocado através da esperança do povo, das perseguições dos governadores e da revolta da sua mulher e amigos. É acusado de ser o grão-mestre da maçonaria, estrangeirado, soldado brilhante, idolatrado pelo povo. Acredita na justiça e luta pela liberdade. É apresentado como o defensor do povo oprimido; o herói (no entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado); símbolo de esperança de liberdade


É um homem instruído, letrado, um «estrangeirado», símbolo da integridade de carácter, da recusa da tirania em defesa dos ideais de justiça e liberdade . É também o símbolo da modernidade e do progresso, já que adepto das novas ideias liberais.

 A sua mitificação pelo povo, que vê nele a personificação do esclarecimento, do inconformismo corajoso e da esperança na luta contra a repressão e o terror, vai torná-lo num homem incómodo, subversivo e perigoso para o poder instituído.

É assumido como uma ameaça à autoridade dos Governadores, gerando ódios e desejos mesquinhos de vingança , seja pela sua lúcida integridade moral, seja pela sua argúcia excepcional de militar, ou até mesmo pela admiração incontestável que lhe dedica o povo.

Inteligente, lúcido, capaz de ver para além da hipocrisia dos poderosos , mas humilde e discreto, já que nunca se serviu do seu estatuto para influenciar o povo .

A prova da sua inocência está na imagem que dele dá Matilde: uma conduta moral irrepreensível, uma coragem inabalável que o faz lutar até à morte, o seu sacrifício injusto, como o de Cristo.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Simbologia


Saia verde: A saia encontra-se associada à felicidade e foi comprada numa terra de liberdade: Paris, no Inverno, com o dinheiro da venda de duas medalhas. A saia é uma peça eminentemente feminina e o verde encontra-se destinado à esperança de que um dia se reponha a justiça.   Sinal do amor verdadeiro e transformador, pois Matilde, vencendo aparentemente a dor e revolta iniciais, comunica aos outros esperança através desta simples peça de vestuário. O verde é a cor predominante na natureza e dos campos na Primavera, associando-se à força, à fertilidade e à esperança.

Título: Duas vezes mencionado, inserido nas falas das personagens (por D.Miguel, que salienta o efeito dissuasor das execuções e por Matilde, cujas palavras remetem para um estímulo para que o povo se revolte).

A luz: Como metáfora do conhecimento dos valores do futuro (igualdade, fraternidade e liberdade), que possibilita o progresso do mundo, vencendo a escuridão da noite (opressão, falta de liberdade e de esclarecimento), advém quer da fogueira quer do luar. Ambas são a certeza de que o bem e a justiça triunfarão, não obstante todo o sofrimento inerente a eles. Se a luz se encontra associada à vida, à saúde e à felicidade, a noite e as trevas relacionam-se com o mal, a infelicidade, o castigo, a perdição e a morte. A luz representa a esperança num momento trágico.

Noite: Mal, castigo, morte, símbolo do obscurantismo

Lua: Simbolicamente, por estar privada de luz própria, na dependência do Sol e por atravessar fases, mudando de forma, representa: dependência, periodicidade. A luz da lua, devido aos ciclos lunares, também se associa à renovação. A luz do luar é a força extraordinária que permite o conhecimento e a lua poderá simbolizar a passagem da vida para a morte e vice-versa, o que aliás, se relaciona com a crença na vida para além da morte.

Luar: Duas conotações: para os opressores, mais pessoas ficarão avisadas e para os oprimidos, mais pessoas poderão um dia seguir essa luz e lutar pela liberdade.

Fogueira: D. Miguel Forjaz – ensinamento ao povo; Matilde – a chama mantém-se viva e a liberdade há-de chegar.

Fogo: é um elemento destruidor e ao mesmo tempo purificador e regenerador, sendo a purificação pela água complementada pela do fogo. Se no presente a fogueira se relaciona com a tristeza e escuridão, no futuro relacionar-se-á com esperança e liberdade.

Moeda de cinco reis: símbolo do desrespeito que os mais poderosos mantinham para com o próximo, contrariando os mandamentos de Deus.

Tambores: símbolo da repressão sempre presente.

Sinos: Traduzem o perverso envolvimento da Igreja nos assuntos do Estado, contribuindo para a repressão imposta sobre o povo (anunciam a morte de Gomes Freire). Contribuem para a denúncia da deturpação da mensagem evangélica ao serviço de interesses mesquinhos e materiais.

Estrutura Externa e Interna


Estrutura Externa
  • Estrutura dual: «Peça em dois atos», a que correspondem momentos diferentes da evolução da diegese dramática.
  • No Ato I é feita a apresentação da situação , mostrando-se o modo maquiavélico como o poder funciona, não olhando a meios para atingir os seus objetivos, enquanto que o Ato II conduz o espectador ao campo do anti poder e da resistência.
  • Não apresenta qualquer divisão em cenas. Estas são sugeridas pela entrada e saída de personagens e pela luz.
 Estrutura Interna
  • Não se trata de uma obra que respeite a forma clássica nem obedeça à regra das três unidades (de lugar, de tempo e de acção). No entanto o esquema clássico está implícito (exposição, conflito, desenlace).
  • A apresentação dos acontecimentos processa-se pela ordem natural e linear em que ocorrem, facilitando assim a sua compreensão.

Vida e Obra de Sttau Monteiro


Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro nasceu no dia 3 de Abril de 1926, em Lisboa.
Com dez anos, foi para Londres com o pai, que exercia funções de embaixador de Portugal. Regressa a Portugal em 1943, no momento em que o pai é demitido do cargo por Salazar. Licenciou-se em Direito em Lisboa, exercendo advocacia por algum tempo. Depois, volta a Londres, onde se torna um condutor de fórmula 2. Mas é em Portugal onde dá os primeiros passos na literatura: colabora em várias publicações, destacando-se a revista Almanaque e o suplemento "A Mosca" do Diário de Lisboa; cria a secção Guidinha no mesmo jornal.
Em 1961, publicou a peça de teatro Felizmente Há Luar, distinguida com o Grande Prémio de Teatro. Porém, a representação foi proibida pela censura. Só viria a ser representada em 1978 no Teatro Nacional. A peça foi um grande sucesso, tendo sido vendidos 160 mil exemplares. Em 1967, Luís de Sttau Monteiro foi preso pela Pide após a publicação das peças de teatro A Guerra Santa e A Estátua. Estas eram sátiras que criticavam a ditadura e a guerra colonial.
Em 1971, com Artur Ramos, adaptou ao teatro o romance de Eça de Queirós A Relíquia, representada no Teatro Maria Matos. Mais tarde escreveu também o romance inédito Agarra o Verão, Guida, Agarra o Verão, adaptada como novela televisiva em 1982 com o título Chuva na Areia.
No dia 23 de Julho de 1993, Luís de Sttau Monteiro faleceu.

Felizmente Há Luar! - Caracterização das personagens



D. Miguel Forjaz
- Prepotente; autoritário; servil (porque se rebaixa aos outros); deixou-se corromper pelo
poder.
-“Não sou, e nunca serei, popular. Quem o for é meu inimigo pessoal.”
- Simboliza a decadência do país que governa;
- A hipocrisia e a mesquinhez são as suas principais características;
- Enquanto governador de Lisboa, representa o espírito decrépito e caduco que impede
a evolução do país e condiciona a sua existência enquanto nação.

Principal Sousa
- Defende o obscurantismo do povo para que os tiranos governem livremente;
- Deformado pelo fanatismo religioso;
- Desonesto;
- Representante do poder eclesiástico.

Beresford
- Cinismo em relação aos portugueses, a Portugal e à sua situação;
- Trocista e mordaz, despreza o país onde é obrigado a viver;
- Oportunista; autoritário; é bom militar;
- Preocupa-se somente com a sua carreira e com dinheiro;
- Ainda consegue ser minimamente franco e honesto, pois tem a coragem de dizer o
que realmente quer, ao contrário dos 2 governadores portugueses;
- Odeia Gomes Freire, não porque o afronte enquanto oficial, mas porque o incomoda
enquanto herói do povo.

Vicente
- Traidor para ser promovido;
- Acaba por ser um delator que age dessa maneira porque está revoltado com a sua
condição social (só desse modo pode ascender socialmente);
- Representa a hipocrisia e o oportunismo daqueles que não olham a meios para atingir
os seus fins;
- Reveste-se de um falso humanismo e de uma solidariedade duvidosa, para fomentar
a ira popular contra Gomes Freire.

Manuel
- O mais consciente dos populares;
- É corajoso;
- Representa, metaforicamente, o povo português. Coexistindo com a miséria e a fome,
protagoniza a consciência de um povo vilipendiado pela opressão, manifestamente
impotente para alterar o seu destino.

Sousa Falcão
- Representa a amizade e a fidelidade;
- É o único amigo de Gomes Freire de Andrade que aparece na peça;
- Ele representa os poucos amigos que são capazes de lutar por uma causa e por um
amigo nos momentos difíceis;
- Representa a impotência perante o despotismo dos governadores.

Frei Diogo Melo
- Homem sério;
- Representante do clero;
- Honesto – é o contraposto do Principal Sousa.
Matilde de Melo
- Representa uma denúncia da hipocrisia do mundo e dos interesses que se instalam
em volta do poder (faceta/discurso social);
- Por outro lado, apresenta-se como mulher dedicada de Gomes Freire, que, numa
situação crítica como esta, tem discursos tanto marcados pelo amor, como pelo ódio;
- Carácter forte; corajosa perante a vilania;
- Recusa a hipocrisia e odeia a injustiça e o materialismo.

Gomes Freire de
Andrade
- Personagem virtual;
- Defensor do povo oprimido;
- O herói (no entanto, ele acaba como o anti-herói, o herói falhado);
- Símbolo de esperança de liberdade.
- Representa, simbolicamente, a integridade e a recusa da subserviência, a sua
capacidade de liderança e os exemplos de coragem na defesa dos seus ideais
remetem para o Portugal do passado, para o período áureo da Nação, que assumia
convictamente a justiça da sua identidade e a veracidade da sua luta pela liberdade.

Populares
- Representantes do povo oprimido, sobre o qual era exercida a violência, funcionam
como coro. As suas falas denunciam a pobreza e a ironia é a sua arma.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Tempo e Espaço



ESPAÇO

-Espaço físico: a acção desenrola-se em diversos locais, exteriores e interiores, mas não há nas indicações cénicas referência a cenários diferentes
-Espaço social: meio social em que estão inseridas as personagens, havendo vários espaços sociais, distinguindo-se uns dos outros pelo vestuário e pela linguagem das várias personagens

TEMPO

-Tempo histórico: século XIX
-Tempo da escrita: 1961, época dos conflitos entre a oposição e o regime salazarista
-Tempo da representação: 1h30m/2h
-Tempo da acção dramática: a acção está concentrada em 2 dias
-Tempo da narração: informações respeitantes a eventos não dramatizados, ocorridos no passado, mas importantes para o desenrolar da acção

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Teatro Épico


O teatro épico procura manter a separação, isto é, criar o chamado «efeito de distanciamento» entre o palco e a plateia, levando as palavras, as imagens e a música não a representarem, mas a mostrarem a realidade, perante a qual o espectador poderia assim (deveria) reagir criticamente e não emocionalmente. 

Luís de Sttau Monteiro, Felizmente há um luar!


 Na obra de Luís de Sttau Monteiro, Felizmente há um luar!, podemos constatar um paralelo entre o tempo da história e o tempo da escrita.

 A ação decorre em 1817, momento marcado por uma grande agitação social, que levou à revolta liberal de 1820 – conspirações internas, a revolta contra a presença da Corte no  Brasil e influência do exército britânico. De facto, havia vários fatores que permitiam a crítica ao tempo da escrita, nomeadamente, o regime absolutista e tirânico, as classes sociais fortemente hierarquizadas, as classes dominantes com medo de perder privilégios, o povo oprimido e resignado, a “miséria, o medo e a ignorância”, o obscurantismo.
Manuel, “o mais consciente dos populares”, denuncia a opressão e a miséria, as perseguições dos agentes de Bereford, as denúncias de Vicente, Andrade Corvo e Morais Sarmento que, hipócritas, e sem escrúpulos denunciam  a censura à imprensa, severa repressão dos conspiradores, os processos sumários e pena de morte, a execução do General Gomes Freire.

 Paralelamente, no tempo da escrita, sobretudo, a década de 1950 a 1960, havia uma enorme agitação social: conspirações internam; guerra colonial, o regime ditatorial de Salazar desigualdade entre abastados e pobres, as classes exploradas, o povo reprimido e explorado, a miséria, medo e analfabetismo, o obscurantismo, mas crença nas mudanças a luta contra o regime totalitário e ditatorial absolutista, as perseguições da PIDE, as denúncias dos chamados “bufos”, que surgem na sombra e se disfarçam, para colher informações e denunciar, a censura, a prisão e duras medidas de repressão e de tortura, bem como a condenação em processos sem provas.

 Podemos concluir que Sttau Monteiro utilizou habilmente a técnica da distanciação do teatro épico, levando o leitor/espetador a refletir sobre os problemas do seu tempo a partir de factos passados.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Texto Dramático


É constituído por:
Texto principal composto pelas falas dos actores que é ouvido pelos espectadores;
Texto secundário (ou didascálico) que se destina ao leitor, ao encenador da peça ou aos actores.
É composto:
Pela listagem inicial das personagens;
Pela indicação do nome das personagens no início de cada fala;
Pelas informações sobre a estrutura externa da peça (divisão em actos, cenas ou quadros);
Pelas indicações sobre o cenário e guarda-roupa das personagens;
Pelas indicações sobre a movimentação das personagens em palco, as atitudes que devem tomar, os gestos que devem fazer ou a entoação de voz com que devem proferir as palavras;

Acção – é marcada pela actuação das personagens que nos dão conta de acontecimentos vividos.

Estrutura externa – o teatro tradicional e clássico pressupunha divisões em actos, correspondentes à mutação de cenários, e em cenas e quadros, equivalentes à mudança de personagens em cena.
O teatro moderno, narrativo ou épico, põe completamente de parte as normas tradicionais da estrutura externa.
Estrutura interna:

Exposição – apresentação das personagens e dos antecedentes da acção.
Conflito – conjunto de peripécias que fazem a acção progredir.
Desenlace – desfecho da acção dramática.

Classificação das Personagens:

Quanto à sua concepção:

Planas ou personagens-tipo – sem densidade psicológica uma vez que não alteram o seu comportamento ao longo da acção. Representam um grupo social, profissional ou psicológico);
Modeladas ou Redondas – com densidade psicológica, que evoluem ao longo da acção e, por isso mesmo, podem surpreender o espectador pelas suas atitudes.

Quanto ao relevo ou papel na obra:

Protagonista ou personagem principal Individuais;
Personagens secundárias ou Figurantes Colectivas

Tipos de caracterização:

Directa – a partir dos elementos presentes nas didascálias, da descrição de aspectos físicos e psicológicos, das palavras de outras personagens, das palavras da personagem a propósito de si própria.
Indirecta – a partir dos comportamentos, atitudes e gestos que levam o espectador a tirar as suas próprias conclusões sobre as características das personagens.


Espaço – o espaço cénico é caracterizado nas didascálias onde surgem indicações sobre pormenores do cenário, efeitos de luz e som. Coexistem normalmente dois tipos de espaço:
Espaço representado – constituído pelos cenários onde se desenrola a acção e que equivalem ao espaço físico que se pretende recriar em palco.
Espaço aludido – corresponde às referências a outros espaços que não o representado.

Tempo:
Tempo da representação – duração do conflito em palco;
Tempo da acção ou da história – o (s) ano (s) ou a época em que se desenrola o conflito dramático;
Tempo da escrita ou da produção da obra – altura em que o autor concebeu a peça.

Discurso dramático ou teatral:
Monólogo – uma personagem, falando consigo mesma, expõe perante o público os seus pensamentos e/ou sentimentos;
Diálogo – fala entre duas ou mais personagens;
Apartes – comentários de uma personagem que não são ouvidos pelo seu interlocutor.
Além deste tipo de discurso, o tecto dramático pressupõe o recurso à linguagem gestual, à sonoplastia e à luminotécnica.

Intenção do autor - pode ser:
Moralizadora;
Lúdica ou de evasão;
Crítica em relação à sociedade do seu tempo;
Didática.

Formas do género dramático:
Tragédia;
Comédia;
Drama;
Teatro Épico.

Outras características:
Ausência de narrador.
Predomínio do discurso na segunda pessoa (tu/vós).

domingo, 11 de novembro de 2012

Phiilip Roth - Património


Roth assiste à batalha que o seu pai – famoso pelo seu vigor, charme e pelo seu repertório de recordações de Newark – trava com o tumor cerebral que o irá matar. O filho, repleto de amor, ansiedade e medo, acompanha-o em cada atemorizante estádio da sua provação final e, ao fazê-lo, revela o apego à vida que marcou o compromisso longo e teimoso do seu pai com a vida.







“Património” é a recriação dos últimos anos de vida de Herman Roth, 86 anos, após a morte súbita da mulher e de lhe ter sido diagnosticado um tumor cerebral. 

O livro narra os últimos anos do pai de Roth: desde a morte da mulher até sua própria morte. O foco principal está nos meses que se seguiram à identificação de um tumor no cérebro do senhor Herman Roth: os ensaios de tratamento, o desconsolo, a espera.

Philip, narrador e simultaneamente autor, percorre também suas dificuldades pessoais, os dilemas que enfrentou antes e depois da doença paterna, a melancolia dos Roth, que corta gerações e anestesia vontades, limita as demonstrações de afetos e afasta quem se desejava que estivesse próximo.

Em Patrimônio, Philip Roth narra a história de Herman Roth, seu pai, nos últimos momentos e faz uma avaliação da relação entre os dois. Dito assim, parece muito simples, mas a vida nunca é assim de verdade. No começo desse relato, Herman está com 86 anos e percebe que está perdendo a visão do olho direito e está com parte do rosto paralisado e é diagnosticado erroneamente com uma paralisia de Bell (uma infeção virótica que causa um torpor, em geral temporário, num dos lados da face).




sábado, 10 de novembro de 2012

Análise do poema "As Ilhas Afortunadas"


Que voz vem no som das ondas
Que não é a voz do mar?
É a voz de alguém que nos fala,
Mas que, se escutamos, cala,
Por ter havido escutar.

E só se, maio dormindo,
Sem saber de ouvir ouvimos,
Que ela nos diz a esperança
A que, como uma criança
Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,
São terras sem ter lugar,
Onde o Rei mora esperando.
Mas, se vamos despertando,
Cala a voz, e há só o mar.


O Poema que refere, “As Ilhas Afortunadas”, encontra-se na terceira parte do livro de Fernando Pessoa. Encontra-se porém num “momento sebástico”. Sendo certo que a questão Sebastianista foi longamente debatida ao longo da história nacional, pessoa enquadra-se nela enquanto um poeta-profeta, que embora admita o regresso físico do rei perdido (chega a justificar tal regresso pela teoria da metempsicose, ou transmigração das almas), faz essa justificação através da única linguagem que a pode entender – a poesia.
Após desenhar na primeira parte da Mensagem a figura do rei, príncipe mártir, traído pela sua ambição, mas o quinto mártir, e por isso ungido de sagrado significado futuro, na segunda parte, as acções dos marinheiros aparecem como que por obra e graça da intervenção divina, no que António Quadros denomina como sendo uma visão providencial da história”, em que esta se dá a conhecer, quando ainda oculta, no milagre, na revelação e no mito.  É a terceira parte já totalmente destinada ao Encoberto, a El-Rei D. Sebastião feito já mito.
 No primeiro dos símbolos, o rei morre mas é divinizado pela sua morte heróica.
 No segundo símbolo Pessoa fala da sua visão do Quinto Império (remeto aqui para as análises feitas já no fórum sobre este assunto).
 O advento do Quinto Império, o Império do Espírito, encontra evidentes similitudes com a ressurreição de Jesus Cristo, porque se espera o regresso de alguém feito mito, depois do seu martírio e morte.
 No terceiro símbolo, D. Sebastião já é O Desejado, caminho para a nova religião, Galaaz, ou o revelador do Santo Graal escondido, que trará essa nova esperança a um povo perdido.

 O quarto símbolo, sobre o qual me questiona no seu pedido, falando das Ilhas Afortunadas, remete para o inconsciente, para fora do plano do mito, onde apenas “esperanças infundadas e vagas” residem: “São ilhas afortunadas, são terras sem ter lugar, Onde o Rei mora esperando, Mas, se vamos despertando, Cala a voz, e há só o mar”. Ou seja, a esperança nas “ilhas afortunadas”, onde um “rei mora esperando”, “se vamos despertando”, se acordarmos de as sonhar, “cala a voz, e há só o mar”, cala-se a esperança e resta o nada que é o sonho depois dele acordarmos. Finalmente, no quinto símbolo, a “Religião do Encoberto” ocupa o lugar da religião cristã, sendo as referências à rosa, referências herméticas à sociedade secreta dos rosa-crucianos.